Maria Rosa - Lupicínio Rodrigues

A experiência constrói modos e formas de viver e de contar o vivido. A habilidade, todavia, não está apenas em viver e contar o que se vive; inclui também a capacidade de ler, ouvir e interpretar. E tudo isso, sem dúvida, não é uma aptidão meramente acadêmica; tem a ver com a experiência, com o conhecimento das coisas pela pré-vivência, pela prática, pela observação.
Dizem Mario Sérgio Michaliszyn e Ricardo Tomasini - citados por M. B. ALVES in MULHERES DO SÉCULO XX: MEMÓRIAS DE TRAJETÓRIAS DE VIDA, SUAS REPRESENTAÇÕES (1936-2000) - que cada um consegue ler aquilo que compreende e sua interpretação será a partir do mundo que habita.
"Maria Rosa", a composição de Lupicínio Rodrigues, está aqui para sua leitura. É incrível a diversidade de compreensão e interpretação do poema de "Lupi"...

Maria Rosa
(Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves)

Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos
Vestindo farrapos calçando tamancos
Pedindo nas portas pedaços de pão ?
A conheci quando moça era um anjo de formosa
Seu nome: Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão
Os trapos de suas vestes não é só necessidade
Cada um, para ela, representa uma saudade
Ou de um vestido de baile, ou de um presente, talvez
Que algum dos seus apaixonados lhe fez
Quis certo dia Maria pôr a fantasia de tempos passados
Pôr em sua galeria uns novos apaixonados
Esta mulher que outrora a tanta gente encantou
Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou
E então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção
Mandou fazer essa capa de recordação
Vocês Marias de agora, amem somente uma vez
Prá que mais tarde esta capa não sirva em vocês.

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