quarta-feira, 7 de março de 2018

Como eu amo a vida!

Lendo há pouco um livro de crônicas da Lya Luft, encontrei uma que fala da sua amizade e afeição por Caio Fernando Abreu. É a crônica n. 36. O título, Caio F. (como ele gostava).




A certa altura, ela conta: "(...) Quando ele adoeceu, li seu artigo revelando sua condição, num dos mais admiráveis testemunhos de humanidade e coragem que conheci neste mundo hipócrita. Perto do seu fim, tivemos duas experiências de amizade destinada. Numa delas, jantávamos juntos, num restaurante discreto perto da casa dele, já retornado a Porto Alegre. Caio de repente segurou a minha mão por algum tempo, depois disse: 'Eu sempre vivi como quem quer se matar. Agora que sei que vou morrer... como eu amo a vida!'. 

Nada melodramático, nenhuma autopiedade, apenas dolorida constatação." 

(Em Outras Palavras, Lya Luft, pág. 153, Editora Record).




Não havia melodrama nem autopiedade, como deixa bem claro Lya, que estava ali, olhando nos seus olhos e segurando sua mão. E essa constatação dolorida me faz pensar se nós, ainda vivos, não temos feito pouco caso da vida, também...