"...Imaginem então a minha surpresa, quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha me acordou. Dizia:
- Por favor... desenha-me um carneiro!
- Hem!
- Desenha-me um carneiro...
Pus-me de pé, como atingido por um raio. Esfreguei os olhos. Olhei bem. E vi um pedacinho de gente inteiramente extraordinário, que me considerava com gravidade.
(...)
Olhava pois essa aparição com olhos redondos de espanto. Não esqueçam que eu me achava a mil milhas de qualquer terra habitada. Ora, o meu homenzinho não me parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo. Não tinha absolutamente a aparência de uma criança perdida no deserto, a mil milhas da região habitada. Quando pude enfim articular palavra, perguntei-lhe:
- Mas ... que fazes aqui?
E ele repetiu-me então, brandamente, como uma coisa muito séria:
- Por favor ... desenha-me um carneiro ...
Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer..."

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O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
Livraria Agir Editora, 1983, 25a ed., pp. 11 e 12