quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O esperar e o desejar

A propósito de um papo sobre "o pessimismo como filosofia", trocamos algumas idéias, virtualmente, o "Sujeito Oculto" e eu.

Dizia ele:
"Eu acredito no pessimismo como filosofia de vida. Não somente devido à Lei de Murphy, mais do que demonstrada em nosso dia-a-dia, pois esse pessimismo é latente e universal. O pessimismo me faz ter uma visão mais realista das coisas.

Isso pode ser visto como prudência. Sempre que vejo alguém organizando algo grande, penso em tudo o que pode dar errado. Caso a pessoa não se previna (e, em alguns casos, não há como), uma das possibilidades fatalmente acontece.

Entretanto, não foi assim que essa filosofia surgiu. Quando eu era criança, sempre criava grandes expectativas em relação às situações: um presente legal de aniversário, uma garota especial que deveria estar numa festa... normalmente me ferrava. Ganhava uma besteira qualquer e a garota, se ia, estava acompanhada.

Nunca consegui lidar decentemente com a frustração, então decidi não criar mais expectativas. Não consigo tirar lições ou ver o lado bom das coisas à la Poliana, simplesmente aceito o que vier de ruim, pois já é esperado. Ao contrário: depois de uma notícia ruim, costumo esperar corolários piores!

Mas nem tudo é ruim nessa filosofia de vida. A partir do momento que não criamos expectativas, não podemos quebrar a cara. Se eu acho que vou levar um fora e consigo ficar com a garota, a satisfação é dobrada. Se eu ganho um presente que não estava esperando, a surpresa é real. Pessimismo não é mais do que um escudo contra as frustrações que insistem em nos perseguir."

Disse eu:
Eu não chamaria de "pessimismo" a capacidade de não criar expectativas. Aprendi que "expectativas geram frustrações" e, assim, descobri que é melhor apenas desejar que algumas coisas saiam de determinado jeito (não esquecer de trabalhar para isto, é claro); sim, "desejar", o que é diferente de "esperar", "criar expectativas". Caso não aconteçam, simplesmente não aconteceram. Não há frustrações, pois eu não apostei todas as minhas fichas de confiança nisso, nem agi como se fosse a única possibilidade; apenas desejei que fosse de um jeito. Caso aconteçam, é esse lance que você falou: a satisfação é dobrada!
Mas o pessimismo implica em dar por certo que vai dar errado... Isso, realmente, não combina comigo. Prefiro ser Pollyana e jogar o jogo do contente a escavacar tudo até descobrir o pior resultado e acreditar piamente que ele pode, realmente, acontecer. Porque se as energias forem gastas nisso, pode crer na possibilidade ZERO de não acontecer o mau que se previu.

Prudência. Pessimismo não.
Pensar nas possibilidades de erro dos grandes projetos é parte da construção, do aperfeiçoamento da idéia, faz parte da fase de planejamento. Mas esperar o pior?? Não. Eu desejo o melhor. Apenas desejo. Ou melhor, estou aprendendo a ser assim.

19 comentários:

Nina Souza disse...

Concordo. Inclusive me lembro que lí que a ausência de expectativa é uma das coisas que o que o budismo diz que ajudam a fundamentar a felicidade, porque a infelicidade se trataria justamente de expectativas frustradas.

Já o pessimismo, no melhor estilo de Schopenhauer, é quando você tem certeza absoluta que o mundo é um grande complô contra a sua felicidade... tudo que puder dar errado vai dar errado, e não existe ninguém no mundo que não tenha sua faceta egoísta e maldosa.

Interessante esse teu texto, gostei.

bjs!

Dulce Miller disse...

Suzi, quando eu li Schopenhauer
pela primeira vez me apaixonei pela visão pessimista que ele criou do mundo e das pessoas, exceto pelo machismo exarcebado (até compreensível pela época), é um dos meus filósofos preferidos...
Mas, incoerentemente, sou otimista por natureza e até hoje ainda faço o "jogo do contente"!
Acho que sou um paradoxo de mim mesma, sei lá!


Beijão e bom dia!

Anônimo disse...

Creio que o pessimismo é um escudo de prevenção, assim como: vou pensar que vai dar errado pois se der certo saio no lucro, mas se por ventura der errado mesmo, não sofro tanto.

Sou otimista que chega a dar nojo, e com isso me vejo planando em vales não tão belos como nos sonhos [que vida é 100% bela?]

Não sou boa pra comentar esses papos-cabeça-filosófico, rss

bunita, deixei mimo procê lá no Brincando, vem um monte de gente conhecer você, tá?

lindo dia
beijos

Amigao disse...

Cara, eu não tenho expectativa nenhuma de nada. Nunca tive. As coisas foram acontecendo certo ou errado e a partir dali fui tomando as direções certas ou erradas.
Eu não faço o jogo do contente.Faço o jogo do bobão e tudo vai caminhando, lentamente mas caminhando.
Beijão do amigão

Fabi disse...

Adorei o texto....
Já faz um tempo que deixei de criar expectativas, assim parei de sentir o gosto amargo de ficar frustrada.

Anônimo disse...

Vimda Clarinha para cá e estoua refletir. A ter prudência,aprendi a duras penas.
dias felizes
http://www.eueorenascerdascinzas.blogspot.com/

Anônimo disse...

Tá. Concordo com a sua visão. Prudência é bem diferente de pessimismo. O "sujeito oculto", no caso, confundiu as coisas.

O pessimismo deixa a pessoa deitada o tempo todo na cama, pois se levantar tudo dará errado e seria melhor permanecer deitado mesmo.

O prudente não age de maneira pessimista, mas, sim, planejada após analisar a situação/projeto/intenção como um todo e desprovido de ilusões.

É o que penso.

Lilica disse...

E eu me policio todo santo dia porque, embora tente sempre pensar positivo, acabo sendo "invadida" por pensamentos ruins. Mas to melhorando nisso! Beijos

Anônimo disse...

Não consigo dissociar “desejar” de “esperar” ou de “criar expectativas”. Acredito que, no mínimo, criou-se a expectativa de ter o seu desejo realizado. Já reparou que enquanto a criança vive no seu “mundo de expectativas”, vive mais feliz que nós, pobres mortais adultos, que vivemos em nosso “mundo de realizações”? As crianças choram (e muito) e fazem pirraça quando suas expectativas se frustram, mas e daí? Será que a criança vive se enganando, camuflando a vida real com a vida de expectativa ou será que a criança ao invés de temer e supervalorizar suas frustrações, consegue se encantar ainda mais com novas expectativas que surgem (ou criam) a partir destas mesmas frustrações? O que será que Poliana quer nos ensinar? Eu, particularmente, já desejei, esperei, criei expectativas e me frustrei...Depois (rs), voltei a desejar, esperar e criar expectativas, afinal tô vivo, né?

Suzi disse...

É, Nina... Não me vejo imaginando o mundo formando um grande complô pra me derrubar... Não mesmo!

;o)
Bj!

Suzi disse...

Oi, Du, seja bem-vinda por aqui!!
Eu também adoro o jogo do contente, menina! Funciona tanto! rs*
Quanto a Schopenhauer, que disse algo do tipo "o sentido mais próximo e imediato de nossa vida é o sofrimento"... sei não. Às vezes me arrepia.
;o)

Bj!

Suzi disse...

Você filosofa sobre o amor, Clarinha. Quer algo mais que isto?
Entre o amor e o sofrimento... Fala sério! Eu quero o amor!!!

;o)

Bj!

Suzi disse...

kkkkkkkkkkkkkk
"Eu não faço o jogo do contente. Faço o jogo do bobão..."

kkkkkkkkkkk

Amigão, só tu!! Só tu pra me fazer morrer de rir!!!!!

Suzi disse...

É, "quase trinta",
quanto mais cedo desenvolvemos a capacidade de não criar expectativas, mais cedo aprendemos a ver, nas pequenas coisas, supresas agradáveis o suficiente para nos tornar felizes.

Beijinhos!
E seja bem-vinda por aqui você também!

Suzi disse...

As lições que aprendemos a duras penas, Grace, sei não... mas parece até que são as mais importantes!

Beijo!
E apareça por aqui sempre que quiser!
;o)

Suzi disse...

Isso aí, Mário,
ser pessimista não entra no meu planejamento.
;o)

Bem-vindo à casa, também!

Suzi disse...

É questão de aprendizado, mesmo, Lilica. A gente começa criando o hábito, e depois se educa mesmo, de tal forma, que a coisa passa a ser natural! É coisa de postura, mesmo, diante da vida.
Um beijo e sucesso!

;o)

Suzi disse...

Oi, Inerte,
você chegou por aqui ontem e eu nem pude dar as boas-vindas... Afinal, o dia de ontem foi daqueles nublados. rs*
Que bom que voltou hoje. Então, lá vai: seja bem-vindo!

:o)

Gostei disso: "Eu, particularmente, já desejei, esperei, criei expectativas e me frustrei..." E depois, inveterado, "voltei a desejar, esperar e criar expectativas"

Tem razão: é a vida.

Sujeito Oculto disse...

Incrível eu só ter lido isso hoje.