segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Despedida - por Antônio Maria (excerto)

"Permite que eu deseje, agora, tomado e vencido pelas urgências que de mim exigem, um canto de sono e preguiça onde ainda não se tenham inventado o telefone e o relógio...
Por isso e pela descrença que em meu espírito se acentua, permite que eu deseje ser só — ou teu somente — num lugar do mundo onde os gritos não tenham eco, onde a inveja não ameace, onde as coisas do amor aconteçam sem testemunhas. Livrem-me da pressa, das datas, dos salários e das dívidas e a todos serei agradecido, num verso submisso. Livrem-me de mim, de uma certa insaciabilidade que apavora e de todos serei escravo numa humilde canção. Permite que eu só queira, agora, esse canto de sono e preguiça, onde não necessite dos atletas, onde o céu possa ser céu sem urubus e aviões, onde as árvores sejam desnecessárias, porque os pássaros se sintam bem em cantar e dormir em nossos ombros."
31/05/1963

Texto extraído do livro "Com Vocês, Antônio Maria",
Editora Paz e Terra - Rio de Janeiro, 1964, pág. 225.

2 comentários:

marta r disse...

"Livrem-me da pressa, das datas, dos salários e das dívidas e a todos serei agradecido, num verso submisso"

Como eu o entendo....

Suzi disse...

Sim, entendemos, Martinha. E como!!
;o)