quarta-feira, 30 de abril de 2008

Plena madrugada

Uma e vinte e nove da madrugada.
Não sou da noite; sou do dia, sou do sol. Não sou de ficar "virada", amanhecer na rua, passar noites em claro. Não troco por praticamente nada uma boa noite de sono. Assim, de certo modo, estar acordada à uma da manhã é novidade, na minha vida. Ou, ao menos, não é hábito.

Aqui estou eu, cansada, cabeça quebrada após terminar a declaração de rendimentos... é, eu sou brasileira e não me adianto nunca! Reza a minha cartilha que Imposto de Renda foi feito pra ser entregue no último dia, pra se passar o resto do ano inteiramente na expectativa: "caí? não caí?? caí? não caí?? caí? não caí??", e no Natal sorrir quando, enfim, chega a cartinha da Receita anunciando a disponibilização da devolução!

Preparo-me para desligar o computador e então entra pela porta da varanda, aberta, uma brisa amena e um cheiro suave, de terra molhada...
Ventou muito, no caminho de volta pra casa, mais cedo. Redemoinho, folhas girando ao vento, amêndoa que cai na cabeça de um pedestre, barulho de folhagens, balanço dos ramos das árvores, prenúncio da chuva, a virada do tempo.

E neste exato momento, enquanto guardo papéis e recibos nas pastas, enquanto penso num chá das cinco por volta das duas da manhã, o cheiro da terra molhada de chuva inunda, se espalha, invade os quartos, expande-se, perfuma a casa inteira, a sala, a alma... Respiro fundo. Inspiro. Suspiro. A chuva cai, eu lembro de Toquinho e Benjor, e penso... "Que maravilha!"

"Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só prá ver o meu amor
Ela vem toda de branco
Toda molhada e despenteada, que maravilha
Que coisa linda que é o meu amor
Por entre bancários, automóveis, ruas e avenidas
Milhões de buzinas tocando sem cessar
Ela vem chegando de branco, meiga e muito tímida
Com a chuva molhando o seu corpo
Que eu vou abraçar
E a gente no meio da rua do mundo
No meio da chuva, a girar, que maravilha
A girar, que maravilha
A girar"

11 comentários:

Luís F. disse...

Apesar da hora tardia, Suzi, está aqui um belo post!
Foi da brisa amena…

:)

MARIPA disse...

Lindo texto,Suzi. Depois do adiantado da hora e trabalho cumprido, o cheiro a terra molhada abraçou-te e fez-te escrever palavras que tocam a alma.

Beijo carinhoso,querida.

Custódia C. disse...

... ou de como transformar uma madrugada chata, num bom momento de inspiração :)

Anônimo disse...

Uma da manhã é hora que que me recolho, hábito.
Agora ainda chove, cheiro bom, trânsito tumultuado, vida que corre nessa terça.
bjs

Anônimo disse...

...meu bem...quem acerta...tem!o seu pesinho em ouro(quer do antigo-oiro;ou do moderno-ouro?!...), e nem lho perguntarei...seria deselegante da minha parte!então vamos lá, como dizia o Drumond...para a Clarice...

Mistério

En sueños te conoci,
y, del amor peregrino,
he adivinado el camino
para llegar hasta ti.
Tras de aquel sueño corri
con el dulce y loco empeño
de ser tu esclavo y tu dueño...
Pero aun tu no me contaste
por qué camino llegaste
a penetrar en mi seño.

Manuel Machado
...para a suzi...das mil e uma noites...a 1ª prestação.gostou?!...

Amigao disse...

Eu fui adiando o meu IR, ontem finalmente mandei a declaração, também no penultimo dia.Hoje é dia de tentar vender isto pro Itaú, hehehehe.Já vale uma viagem pro Rio.
Putz, vou votar ao post pq esqueci do que se trata.

Anônimo disse...

O seu texto está tão encantador, que eu quase pude sentir o cheiro de terra molhada aqui (e olha que tá um sol de rachar...).
Lindo, boneca! Obrigada.

Beijos.

Anônimo disse...

Que texto lindo. Quase pude sentir a brisa, o cheiro da terra molhada. Tocaste todos os meus sentidos! :)
E adorei o poema final, lindo!
Beijinhos!
Amanhã é feriado em Portugal. (Aí também é, ou estarei enganada??!!)Volto sexta!*.*

Camilinha disse...

Fazer imposto de renda é uma merd... mesmo. No seu caso, entretanto, lhe rendeu algo bonito! Invejinha, vice?!

beijos daqui...

Anônimo disse...

Adiantei o envio do meu um pouco antes... 1 dia antes do seu...
Mas que ótima final teve o seu.
BEijão, querida.

Anônimo disse...

Que descrição deliciosa, Suzi! A madrugada torna-se, muitas vezes, uma experiência deliciosa, especialmente quando o silêncio inspira e podemos ouvir um pouco de nós mesmos.