Para mim, moleque da rua Alegre havia uma relação nítida e taxativa entre a guerra e o Fluminense. Seriamos campeões em 17, 18 e 19. Ainda hoje, meio século depois, tenho a sensação de que a Grande Guerra trazia no ventre o tricampeonato Tricolor. Vejamos o absurdo: a Grande Guerra seria apenas a paisagem, apenas o fundo das nossas botinadas. Enquanto morria um mundo e começava outro, eu só via o Fluminense.
Quem ia ao futebol era Milton, o meu irmão mais velho. Acompanhava o Tricolor, com uma obstinação de fanático. Quando ele chegava, de noite, eu vinha correndo perguntar:- "Quem ganhou?" E ele, tostado pelo sol dos clássicos e das peladas: - "O Fluminense!" Era o Fluminese, sempre Fluminense. Até que, um dia, não foi o Fluminense.
Imagino que o leitor esteja fazendo a impaciente pergunta: - "E o Flamengo?" Hoje, o Rubro-Negro, por onde vai, arrasta multidões fanatizadas. Há quem morra com o seu nome gravado no coração à ponta de canivete. Mas eu não falei no Flamengo e explico: - O Flamengo nem sempre foi Flamengo.
Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia. Vale a pena voltar a 1911, ou 12, não sei. Como eu dizia, o Flamengo era ainda Fluminense.
Eu disse que o Flamengo era ainda Fluminense e já retifico: Antes do futebol, o Rubro-Negro foi remo ou, melhor dizendo, foi "domingo de regatas".
Até que, um dia, houve uma dissidência no Fluminense. Eu gostaria de saber que gesto, ou palavra, ou ódio deflagrou a crise. Imagino bate-bocas homicidas. E não sei quantos Tricolores saíram para fundar o Flamengo. Hoje, nos grandes jogos, o Estádio Mário Filho é inundado pela multidão rubro-negra. O Flamengo tornou-se uma força da natureza e, repito, o Flamengo venta, chove, troveja, relampeja. Eis o que eu pergunto: - Os gatos pingados que se reuniram, numa salinha imaginavam as potencialidades que estavam liberando? Há um parentesco óbvio entre o Fluminense e o Flamengo. E como este se gerou no ressentimento, eu diria que os dois são os irmãos Karamazov do futebol brasileiro.
Fonte: La Insignia
11 comentários:
Oi suzi,tudo jóia?Meu nome é Lucas e quero dizer que achei legal essa sua idéia de transcrever um trecho dessa obra do Nélson Gonçalves pq põe um pouco mais de cultura e ajuda a deixar melhor do que já está o seu blog.Também gostei de ver a bandeira do mais querido time do Brasil.Grande abraço e beijos para vc
Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia.
jkkkkkkkkkkkkkk...que piada...NR só disse isso pq não me conheceu...eu hein...
Muito bacana o texto. Confesso até que Dostoiévski é um daqueles escritores que eu digo: "qnd passar essa fase de, aí varia, concurso, provas da facul, eu leio Dostoiévski(metonímia bombando, rs) "Os Irmãos Karamázov" é um desses. Tenho o livro aqui em casa, mas sem tempo de lê-lo. Além disso, fluminense sou de nascença(porque meu pai o era e assim me batizou, rs) mas nem ligo para esportes, assim como ñ ligo para signos, e msm assim tenho um.
O blog está excelente como da última vez que vim aki. Ví até que vc colocou um post sobre Kleyton e Kleydir, e nessa terça-feira(06/11) presenciei um show deles em prol da "Viva a Vida" na escola naval. Realmente é espetacular, ainda mais o violino. Houve até uma parte em que ele sentou no colo de uma mulher e ainda tocava o violino maestria.
Um abraço!
Hoje fiquei a saber um pouco mais do que sabia e isso é sempre bom. :)
Beijo
Pois é, Lucas. A bandeira do mais amado, e que nos deu amis uma alegria, ontem.
uhu!!!!
:o)
Pára de show, Mumumu.
Nesse teu sangue vermelho correm umas gotinhas negras. Pode admitir. Baixinho, pra ninguém ouvir.
;o)
Arcanjo, gostei dessa coisa de "...como ñ ligo para signos, e msm assim tenho um." Nunca tinha visto por esse lado...
Mas vou lhe contar um segredinho: se vc estivesse ontem, no Maraca, teria sentido uma emoção do caramba!, mesmo nem ligando para esportes. Coisas que só o Flamengo faz!!
;o)
Pois é, Miguelito.
E de que valeria a vida se não fosse um aprendizado diário? Que monotonia...
;o)
Bom te ver por aqui!
Todo mundo é flamenguista por um instantinho que seja, sábio Nelson Rodrigues!!
Vc tava lá ontem né?
Vem cá, ninguém vai devolver nosso penta mesmo não né? Que bosta!!
Beijos!!
Menina, o que foi aquilo, ontem, hein???
Teve até taça do penta!!!
kkkkkkkkk
E até o Toró jogou futebol, menina! Ê, Mengão!! Dá-lhe!!!!
valeu, suzi. nr era talvez o mais sabio tricolor. e, realmente, o fluminense nasceu com a votacao da eternidade.
viva o flu!
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