segunda-feira, 15 de outubro de 2007

15 de outubro - Dia do Professor

Foi um tempo em que minha vida estava totalmente ligada às crianças. Um tempo em que meus estudos, meus dias e noites era dedicados a elas e a sua educação. Eu acordava cedinho, minha mãe punha "o café" na mesa e eu almoçava, porque seria um dia longo, o tempo reservado para o almoço não ultrapassava uma hora, e essa hora não era exclusivamente para alimentação e descanso. Descanso, na verdade, não havia, e eu precisava dividir o tempo entre almoçar e sair da escola onde eu trabalhava a tempo de chegar na outra, onde deveria estar às 13h. Então, entre mães que se atrasavam para buscar seus filhos, ônibus que demorava e o sinal que tocava à uma da tarde, quase nada me restava para um almoço decente. E era por isso que eu já almoçava de manhã.

Depois das 17h30min, preparação para os meus estudos, à noite. E foi assim até à faculdade.

Comecei a dar aula aos 15 anos. Eu fazia o curso de "Formação de Professores" num Colégio de Aplicação. O primeiro ano era "básico", e as turmas eram formadas por alunos de diversos cursos. Eu estava no segundo ano quando fui selecionada para ser estagiária numa turma de 3ª série. A "professora" era uma colega do terceiro ano do curso de Formação. Foi minha primeira experiência em sala de aula. E eu gostei. Ao final do primeiro dia em que atuei como "estagiária", fui chamada pela Coordenadora do Curso para assumir a turma da 2ª série. Fiquei animadíssima! Mas, acredite, não fosse o meu talento pessoal (e digo isso sem nenhuma modéstia, mesmo), a base, na família, e as atividades na igreja, que sempre me levavam a falar em público e a cuidar de crianças, e aquilo teria sido um fiasco! É... Porque era (quase) nenhuma a orientação que recebíamos dos professores. E os pais, coitados, achavam que nós éramos professoras formadas... Pagando uma nota pela escola dos filhos.

Fiz meu trabalho bem feitinho, ali. Com dedicação, amor, carinho, e a contraprestação pelo trabalho era a bolsa de estudos. Eu (meu pai) não pagava mais a mensalidade do curso de "Formação". Trabalhei muito feliz, ali. A Coordenadora, então, me chamou para dar aula numa outra escola, na qual ela era Supervisora. Essa era, então, a tal escola em que eu trabalhava de manhã, e que falei lá no começo. Ali eu tinha dezoito alunos do "Maternal". Crianças entre um ano e meio e dois anos. A sala não tinha mais que 9 metros quadrados, eu suponho. Eu não tinha ajudante e quando cheguei as crianças faziam xixi no meio da sala. Não era legal trabalhar ali. Mas eu havia aprendido em casa: "Tudo o que te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças..." e eu tinha forças para trabalhar bem; não podia largar nem fazer mal-feito. Trabalhei direitinho, dedicada, embora tudo ali girasse em torno do dinheiro. Eu recebia, de "salário", o equivalente à metade da mensalidade de um aluno. Havia 18, na minha turma, lembra? O salário, ali, não era a atração. Longe disso. O que me atraía era a possibilidade de adquirir experiência, e a possibilidade de deixar a minha marca naquelas crianças.

A essa altura, no outro Colégio, pediram que eu deixasse a 2ª série e assumisse a primeira turma de "Jardim da Infância" da instituição. E a turma tornou-se a menina dos olhos da D.Vera Gissoni, a dona de tudo, ali. Nossa sala era a antiga sala da Presidência. E então, você imagina que beleza era aquilo! Nossa "casa de bonecas" ocupava uma sala inteira, dentro da sala. Havia banheiros, "hall" de entrada, ante-sala, o cantinho de descanso era uma sala inteira, também... A primeira turma de Jardim daquele Colégio tinha cinco alunos e uma professorinha que os amava muito e tinha tudo o que precisava para fazer seu trabalho, menos orientação, é verdade. Mas, como eu disse, eles deram muita sorte porque eu era boa mesmo, minha mãe e minha irmã eram professoras e eu aprendia em casa o que ainda não tinha tido tempo de aprender na "escola de formação". Foi também nesse tempo que eu conheci de pertinho o Renan, do vôlei, o Bernard-Jornada-Nas-Estrelas, aquela turma quase toda da geração de prata do vôlei do Brasil. A faculdade de Educação Física mais famosa do Rio, e, diziam, a melhor, funcionava no mesmo edifício em que ficávamos nós, do Jardim. Quando passávamos em frente à Biblioteca, cantando "Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou... mamãe chegou e me chamou por isso eu vou...", os meninos do vôlei vinham todos pra porta - pra ver as crianças, aquelas coisinhas lindas, cantando, merendeira no ombro, e sorrisinho nos lábios.

Fui nesse ritmo até o ano seguinte, quando terminei o curso e comecei a faculdade. Aquela escola que tinha 18 alunos na salinha minúscula cresceu muito (às custas do trabalho de tantas boas professoras, a maioria ainda estudante, e que não agüentava ficar lá mais que meses) e a última notícia que eu tive, há muitos anos, é que já tinha três anexos, quadra poliesportiva e tal. É um exemplo de como o comércio da educação é um investimento rentável. Olho vivo na hora de escolher a escola dos seus filhos. Conheça a filosofia da escola em que você vai colocá-los. E, de preferência, conheça o professor que será responsável pela sua educação. Tem muita gente boa em lugar ruim. E, às vezes, o lugar ruim só consegue ter gente do mesmo tipo...

Quando acabei o curso de "Formação de Professores" e cheguei à faculdade, já havia adquirido o gosto pela educação. Eu, que havia planejado fazer apenas um período de Pedagogia e em seguida abraçar o Jornalismo de uma vez por todas, não consegui abandonar o curso. Saí daquela escolinha 18 x 9 (18 alunos por 9 metros quadrados), comecei a dar aula em outra escola particular, fiz concurso público para "Professor II", no município, tive duas matrículas, caí dentro. Era, pra mim, a profissão mais linda do mundo. EDUCADOR.

Um dia, todavia...
Pois é. O encanto não acabou, mas aquela criatura que amava dar aulas e educar crianças, também gostava muito de defender direitos. Os seus e os dos outros. E então mudou o rumo, para andar por novos caminhos.

Gosto muito da profissão que exerço, hoje. Mas, como dizia Leo Buscaglia, a que mais gosto, mesmo, é a de Educadora. Pelo que representa, pelo que pode fazer pelo mundo, pelo que fez de mim e pelo que me permitiu fazer por outros, tenho orgulho de ser Professora. E é sempre uma alegria imensa, quando no dia 15 de outubro de todos os anos o telefone toca e do outro lado da linha está minha mãezinha dizendo: "Parabéns pelo seu dia, minha filha!"

14 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo teu dia! :)
Adorei ler esta tua história de vida!

Boa semana!
Beijos *.*

Suzi disse...

Muito grata, Guiga!

Boa semana pra ti também!
;o)

Amigao disse...

Parabéns "tia suzi". Sorte sua que tem o dia 15 de outubro. Na outa profissão ninguém liga para parabenizar né? (piadinha infame, eu não resisti)

Suzi disse...

hehehehehe

eu sei como é.
nem eu resisto.
hohohohoho!!

JEANS E CAMISETA disse...

Parabéns pra você educadora. Gostei de ler sua história.
Bjim

Suzi disse...

Parabéns pra você também, Cris!
;o)

Custódia C. disse...

Gostei de ler Suzi:)

rps disse...

Tb gostei de ler. Aí como cá, presumo: pouco compensador financeiramente ser educador...

Suzi disse...

;o)

Beijinhos, Custódia.
E saudades de ti!

Suzi disse...

É, Rps. Financeiramente, pouco compensador.
Ganha-se em outras frentes. É uma profissão de puro amor.

Miguel S. disse...

Que história bonita, Suzi! Mais uma, aliás!
Beijo ;-)

Luís F. disse...

Bela história Suzi! Adorei!! :)

Anônimo disse...

É bom revisitar essas histórias. E se juntar com os anos do R SOL então, dá um livro! Bom mesmo é ouvir no telefone todo ano o parabéns, não é?
Pro dia ficar ainda mais festivo, os professores aqui em casa resolveram casar nesse dia, e o parabéns fica duplo....rsrsrs.
Bjnhs.

Amigao disse...

Opa, alguém faz aniversário de casamento?
Parabéns!