sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Analfabetos do amor - por Nelson Rodrigues - parte final

"4 - Olhem em torno. Vejam os namorados que conhecemos. Eles amam sem alegria, sim, todo o mundo ama sem alegria. Essa tristeza, inerente ao sentimento amoroso, decorre de que não sabemos amar. O homem mais sensível e lúcido é, diante do ser amado, um incerto ou, pior do que isso, um inepto. Ele não sabe o que dizer, o que fazer, o que pensar. O que nós chamamos "romance" é a soma de erros, de equívocos engraçadíssimos. Vejam: - não encontramos palavra justa, exata, perfeita; não nos ocorre o galanteio que o ser amado desejaria escutar.

5 - E, no entanto, a partir de Adão e Eva, o homem já teve bastante tempo para aprender como gostar, como amar. O amor exige, entre dois seres, uma linguagem própria, um idioma específico. Mas não usamos essa linguagem ou parecemos não entender esse idioma. As pessoas que menos entendem - como se falassem línguas diferentes - são as que se amam. Dir-se-ia que o amor, em vez de unir, separa. Cabe então a pergunta - por quê? É simples. Porque amamos errado, porque não sabemos amar.

6 - A rigor, o momento mais doce do amor é o flerte. O flerte não dilacera, não envenena. Um simples olhar, de uma luz mais viva; um sorriso leve é quanto basta para que dois seres experimentem a esperança de uma comunhão docemente infinita. Mas o flerte - eu prefiro o flerte à paquera - o flerte é, normalmente, uma promessa que não se cumpre. Pois, em seguida, o namoro abre uma fase de perspectivas inquietantes. Fala-se em 'briga de namorados', tão comum e, eu diria mesmo, obrigatória. Mas não são os pequeninos atritos que marcam e vão, pouco a pouco, ferindo e destruindo o sentimento amoroso.

7 - Se o homem soubesse amar não elevaria a voz nunca, jamais discutiria, jamais faria sofrer. Mas ele ainda não aprendeu nada. Dir-se-ia que cada amor é o primeiro e que os amorosos dos nossos dias são tão ingênuos, inexperientes, ineptos, como Adão e Eva. Ninguém, absolutamente, sabe amar. D. Juan havia de ser tão cândido como um namoradinho de subúrbio. Amigos, o amor é um eterno recomeçar. Cada novo amor é como se fosse o primeiro e o último. E é por isso que o homem há de sofrer sempre até o fim do mundo - porque sempre há de amar errado."
(Final)
A seguir, virá a última das crônicas de Nelson Rodrigues - AMOR QUE MORRE

17 comentários:

Anônimo disse...

o momento mais doce do amor é o flerte...hohoho..concordo, concordo, concordo!

menina, tô passada com isso! NR me surpreendendo!

* PS1: saca qdo vc conta uma piada e a pessoa dez minutos depois é que ri? pois é...a lesa aqui, só agora, captou a vossa mensagem ao me ligar entoando a tal musiquinha by telemar...pode rir, pode rir!

* PS2: o seu serviço de meteorologia particular informa, diretamente do favelão, que nuvens plúmbeas aproximam-se!

Suzi disse...

Ahahahahaha!!! Só agora, mulher??? bem que eu percebi que seu comentário, na hora, tava meio estranho...
hohohohoho!!!

E NR assim tão romãntico, hein? Você vai ver na próxima crônica, o cara falando do som de uma valsa... Quase inacreditável. Bem, depois ele morreu, é verdade. Coisas da vida...

Bj!

Suzi disse...

"Nuvens plúmbeas" - nossa... isso é muito lindo!! mas como eu não sei o que é isso, tô indo pra praia, pra ver o que é.

:o))

Anônimo disse...

Hoje, estamos os dois apressados. Logo mais, prometo, vou ler esta parte final e tirar as devidas conclusões. Hoje tem post tb sobre mais uma coisa do teu, nosso, Rio de Janeiro. Alguém de quem já deves ter ouvido falar, no mínimo.
Bjos

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...vai tomar água na cabeça!!!!!!!

Sujeito Oculto disse...

Não poderia concordar mais. Acho que existem dois tipos de incerteza no amor: a da conquista, que é o desafio, e aquela que temos quando achamos que o amor está acabando. Adoramos a primeira e não sabemos o que fazer com a segunda.

Felipe Silva disse...

gostei desse post!

Anônimo disse...

Cada novo amor é o primeiro e o flerte a melhor parte, ai, ai...sei disso
Mas ainda acredito no amor alegre, que brinca de pique esconde, que faz sorrir, acredito que o tempo vai nos corrigindo, mostrando alternativas, nos fazendo mais feliz, sim, eu acredito!
Assim como é quase impossível crer que o temível e machista Nelson falava tão lindo e com tanta leveza sobre o amor romantico, né? rsss
boa noite, bunita
beijossssssssss

Suzi disse...

Oi, Miguel, adoro quando o Rio é palco e cenário das suas viagens. Já vou lá ler calmamente seus posts.

Beijinhos e até já!
;o)

Suzi disse...

Moniquete,
tava lindo, o mar!!! Tudo bem que caíram gotinhas de chuva, na cabeça da gente. Mas foi bem refrescante e relaxante. Eu precisava, menina!
Bjins.

Suzi disse...

Pois Sujeito, o próximo texto da série "Nelson Rodrigues" fala justamente de quando o amor morre. É também tão diferente do NR que estamos acostumados a ler/ver/ouvir!
Aguarde.

Bj!

Suzi disse...

Oi, Felipe!
Leu a crônica na íntegra? Há dois posts, anteriores a este, que completam o texto.

E seja bem-vindo por aqui!
Volte sempre que quiser, a qualquer hora. É ir chegando, sentando, falando, concordando, discordando...
Combinado?

E boa sexta!

Suzi disse...

Marcinha-Clarinha,
eu sei que você sabe... rs*

E NR nos surpreendeu, não é mesmo?
Pois é... A vida... Como ela é, hein?!
;o)

Alba Regina disse...

acabou não é? então é isso: concordo complertamente totalmente com com nr. pena q o flerte num relacionamento é apenas um piscar de olhos... pena. beijo.

Custódia C. disse...

Não consegui encontrar muita empatia com este NR. Há aqui qualquer coisa, que não convence! Este "romantismo" é um bocadinho estranho !

Suzi disse...

Albinha, esta crônica, Chamada "Analfabetos do Amor" terminou. Mas a "Sessão-Queixo-Caído com Nelson Rodrigues" continua amanhã, com "Amor que Morre". E, acredite, os textos são dele!!

Suzi disse...

Ccc, o que causa maior estranheza a quem já leu, ouviu ou viu QUALQUER COISA de NR é exatamente isso! Uma doçura, até mesmo uma certa melancolia no escrever, que pouco combinam com a manifestação usual do seu pensamento. Esse é o grande lance destes dois textos que ficarão aqui no blog. Pouco ou nada parecidos com o autor ao qual estamos acostumados. É, no mínimo, curioso, isso.

Bjins!