quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

As Lojas Americanas

Começo de outubro/2008. Por causa dessa minha mania de pensar em direitos x obrigações, mesmo fora do trabalho, de vez em quando me envolvo em situações inusitadas. Minha irmã diz que certas coisas só acontecem mesmo comigo...

Pois num daqueles momentos de ócio que pude viver no mês de outubro, eu fui pra rua "bater perna". Caí num shopping, assim, "meio por acaso"... Entrei nas Lojas Americanas. A maldição das maldições das datas festivas é a comercialização dos sentimentos. Para comemorar o dia das mães e demonstrar amor, vende-se a idéia de que é preciso comprar um presente. Dia das crianças, então, é um suplício. Uma coisa lamentável, mesmo. Eduque seu filho de uma forma que ele cresça e se torne um adulto saudável, com valores e princípios que não o minimizem a um mero consumidor de "produtos de primeira necessidade dispensabilidade".

E acontece que eu fiquei cerca de 40 minutos na loja e saí de lá com uma dor de cabeça tremenda! Pior do que você ouvir "Então é Natal / E o que você fez?...", com a Simone, é você passar 40 minutos ouvindo "Xuxa aos berrinhos", com aquela voz de filhotinho de taquara rachada, achando que está cantando... A coisa estava tão insuportavelmente ensurdecedora que eu comecei imaginar como estavam se sentindo os caixas, os empregados da loja, ouvindo aquilo o dia inteiro. Sim, porque há metas a serem atingidas e se é preciso vender uma quantidade "x" daquele produto, é ele que vai ficar tocando, dia e noite, até o final da campanha. Doa o ouvido que doer.

Perguntei à menina do caixa como conseguiam trabalhar com aquele som. Na verdade, essa coisa de múisca alta no ambiente de trabalho sempre me incomodou e essa é uma pergunta que faço em quase todas as lojas que tocam rock, por exemplo; e geralmente pergunto para o gerente...

A menina do caixa me disse que seria assim até o dia 12, porque era preciso vender aquele CD. E eu perguntei: "Mas precisa ser tão alto?? Não basta o castigo da lavagem cerebral? É preciso afetar os tímpanos?" Ela disse que era mesmo um incômodo, mas que ninguém podia reclamar...

Como assim???? Ninguém????

Bem, eu sei muito bem o que é isso. Conheço a relação empregador / empregado, e sei que aí no meio tem uma figura especial, chamada "Gerente" e que muitas vezes é mais tirano que o próprio dono da coisa...

Paguei minha conta e fui ao "Atendimento ao Cliente" procurar pelo Gerente, que foi chamado pelo microfone. 5 minutos se passaram e nada. Chamaram outra vez. Nada. O atendente foi até à sala do moço e voltou com o seguinte recado: "Ele está ocupado, fazendo uma planilha, e não pode vir aqui... A senhora até pode ir lá, mas ele me perguntou qual era o assunto , eu disse que era sobre a altura do som e ele disse que vai baixar."

Achei o seguinte: se o "Gerente de atendimento" não pode atender, o mundo está praticamente perdido! Então fui lá retardar um pouco a perdição definitiva do mundo. Salvar eu sei que não dá, mas se eu posso pelo menos retardar o processo de destruição...

Cheguei na sala, no final do salão, e me deparei com a cena: a mocinha sentada em frente ao computador, e o gerente "sentado com as costas" numa cadeira, literalmente; pernas cruzadas, mãos cruzadas também, por sobre a barriga, e achando graça de alguma coisa...

- Boa tarde! O senhor é o Gerente?

- Sim... (arrumando-se na cadeira)

- Eu vim até aqui porque o senhor não podia ir até lá, não é mesmo? Estava fazendo uma planilha... Então eu vim aqui. Interessante, porque parece até sem sentido o que eu vou falar, já que aqui na sua sala nem dá pra ouvir o som que está tocando na loja...

- É... o rapaz me falou. Eu vou baixar.

- Sabe, eu estou há menos de uma hora na sua loja (a esta altura, você fala como se o negócio fosse do próprio gerente - "sua loja", porque, por incrível que pareça, ele se sente mais importante, com isso, e pensa que é uma espécie de reverência que você está prestando, o que prepara a alma do moço para ouvir o que você vai dizer em seguida) . E consegui uma dor de cabeça incrível! Trabalhar aqui nesta sala é bastante confortável, mas fazer compras ou trabalhar lá fora é quase impossível!

Bem, seguiu-se um diálogo simples, educado e muito gentil, até que ele se levantasse e mexesse no botãozinho que diminui o volume do "som ambiente". Eu agradeci e me retirei.

Bobagem, você pode pensar. Implicância, talvez alguém diga. Chatice (o que for mais ousado). Mas certas coisas valem a pena, sabe? Ganhar um sorriso de gratidão das meninas do caixa, por exemplo, não tem preço.

Perdi uns 20 minutos da minha vida reclamando do som que me incomodou por cerca do dobro desse tempo, apenas. Mas salvei uma boa parte do dia dos trabalhadores daquela loja. Pelo menos por um dia.

12 comentários:

Luís F. disse...

Também não suporto estar em lojas com a música aos altos berros…

A bem da verdade, nunca perco muito tempo dentro de uma loja, sou sempre muito rápido.

Já agora: o moço estava "fazendo uma planilha", o que é isso meu deuuuuus?

:)

Amigao disse...

Bem, eu não entro em shopping muito menos em lojas americanas, mesmo elas aceitando Visa vale.

1) Minha frustração de infancia: eu sempre quis ter um ferrorama, nunca ganhei. Por isso não gosto do dia das crianças.

Sobre sua atitude eu acho que você fez a diferença.Tenho pensado muito neste assunto ultimamente e vou até postar,pois passei por uma experiencia em que alguém deveria ter feito a diferença e não fez.

Não estamos aqui para fazer o que todo mundo faz. Estamos aqui para fazer a diferença e isto sempre vejo (leio) você fazendo.
Beijão do amigão!

Lilica disse...

Sabe o que é mais engraçado? É que eu fiz a mesma pergunta a o atendente das Lojas Americanas na semana do dia das crianças, vc acredita? O rapaz sorriu e disse: fazer o quê né? Mas infelizmente nem todos são como a querida Suzi e então eu não fui fazer a reclamação ao gerente...deveria ter feito né!

Beijos

Custódia C. disse...

O Luís ficou confuso com "planilha", eu fiquei confusa com "loja americana". É nome de Shopping?
Quanto ao resto, concordo em absoluto. Há que fazer a diferença. Provalemente nos dias seguintes o gerente pensou duas vezes antes de sintonizar o volume de som!!!

Amigao disse...

"Lojas Americanas" é o nome de uma loja do Shopping, que aceita Visa Vale. rsrsrsrsrs

Nina Souza disse...

não acho bobeira não... teria feito o mesmo. ainda mais eu, do jeito que sou cara de pau...
bjs!

Anônimo disse...

Também odeio lojas barulhentas!
*.*

PreDatado disse...

Pelo menos salvou até à hora em que você saiu da loja. Acho que ele ficou espiando. Mas fez bem em reclamar. Pior é quando todo mundo se cala. É que quem cala, consente.

Luciana disse...

Adorei! Também detesto ouvir a mesma trilha sonora de sempre dessa loja. Você está certíssima em reclamar, tem que fazer isso mesmo.

Beijos!

Suzi disse...

Como disse o Amigão, "Lojas Americanas" é o nome de uma loja de departamentos. Daquelas que vendem de tudo: roupas, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, CD, DVD, material escolar, doces, chocolates, lingerie, brinquedos, calçados... E "planilhas" são aquelas, tipo as feitas no "Excel", tabelas, coisa assim. Alegadamente ele deveria estar fazendo uma planilha de custos, ou de vendas, ou de estoque... algo do tipo. Mas, pelo visto, estava mesmo era de papo furado com a secretária...

Angela disse...

Na minha casa nós somos campeões de reclamação, não deixo de jeito nenhum alguém fazer algo errado e deixar pra lá....
A minha briga foi com a Credicard, nossa eles arrumarão uma divida que eu fiz, dizendo eles, e eu tinha que pagar, sendo que o valor era o mesmo de uma conta que eu já tinha pago, reclamei mais de uma vez e nada, na última eu disse ao atendente, vocês pensam que eu sou idiota, não sou, brincaram com a pessoa errada, e disseram que iriam mandar uma carta pra mim, para que eu retornasse a carta,para que eu tentasse provar a eles que eu não devia,nossa isso me subiu, então eu soltei toda a carrocinha e a única coisa é que eles tiraram a divida e não falaram mais no assunto...
Temos que reclamar sim...
Bjão Suzi...

Suzi disse...

Isso aí, Angela! Isso aí!
;)