Lupicínio Rodrigues era aquele compositor que fazia "sambinhas dor-de-cotovelo". Você lembra de uma de suas músicas, por exemplo, que bem recentemente voltou à moda, depois que um certo senhor (então) parlamentar disse ter caído da escada enquanto pegava um livro na estante e cantava "Nervos de aço". Coitado de Lupicínio...
"Lupi", como era carinhosamente chamado entre os amigos, também era cronista, o que eu descobri há pouco tempo. Era cronista de jornal; e há um livro chamado "Foi assim" que reúne suas crônicas de desilusões amorosas. Já tentei encontrar mas não consigo. Um dia, quem sabe. Nas composições, Lupicínio Rodrigues falava da decepção, de suas fossas, mas de um jeito tão próprio, talvez eu possa dizer que era de um jeito leve, talvez... Usava uma ou outra palavra, no meio da música, para quebrar a rigidez e a dureza do assunto, e conseguia! - como naquele trecho de "Aves Daninhas", em que ele diz:
"...Quando eu estou em paz com meu bem / Ninguém por ele vem perguntar / Mas sabendo que andamos brigados / Esses malvados querem me torturar / Se eu vou a uma festa sozinho / Procurando esquecer o meu bem / Nunca falta uma engraçadinha / Perguntando ele hoje não vem?..."
Ele quebra a melancolia e a dor com essa "engraçadinha", muito embora esteja morrendo de raiva do que acontece.
Gosto das dores quando são cantadas por Lupicínio Rodrigues; dos tais desamores. Mas aqui ou ali ele canta também de amores que dão certo, mesmo quando as palavras já não são "eu buscarei a lua para ti, amor..." (como dizem os que acabaram de se apaixonar), ou "tu és divina e graciosa estátua majestosa do amor, por Deus esculturada..." (como disse Pixinguinha), mesmo no meio das brigas, porque, afinal, "é melhor se brigar juntos do que chorar separados".
Exemplo
Lupicínio Rodrigues
Deixa o sereno da noite
Molhar teus cabelos
Que eu quero enxugar amor
Vou buscar água na fonte
Lavar os teus pés
Perfumar e beijar amor
É assim que começam os romances
E assim começamos nós dois
Pouca gente repete estas frases
Um ano depois
Dez anos estás ao meu lado
Dez anos vivemos brigando
E quando chego cansado
Teus braços estão me esperando
Este é o exemplo que damos
Aos jovens recém-namorados
Que é melhor se brigar juntos
Do que chorar separados
12 comentários:
Deixa eu sentar "na cadeira vazia" e curtir esse "exemplo", lembrando que "ele disse-me assim": a "felicidade" faz parte da "minha história" e não tenho "nervos de aço" para esperar "esses moços" e "nunca" mesmo "se acaso você chegasse" eu pensaria em "vingança" me faça "um favor" e "volta".
Adoro Lupicínio e sua dor de cotovelo, adoro!
lindo dia bunita
beijosss
Ai, Clarinha, que você fez não só uma seleção das músicas, mas criou uma história de amor... Com aquela dor do próprio Lupicínio. Que em algum momento é a minha, é a sua, é de todos nós.
Um beijo, minha querida marcinha-clarinha-loirinha-lindinha.
Que volte!
;o)
Amor, quem vive sem ele?
Sempre belas palavras :)
É, ccc...
o amor... ah! o amor...
;o)
beijinhos!
cresci ouvindo Lupicínio, Pixinguinha e Altemar Dutra....ou seja de amor cantado e de dor de cotovelo eu entendo....
Oi Suzi, como gosto muito do que vc escreve, resolvi fazer uma pesquisa sobre onde encontrar o livro "Foi Assim", e o encontrei a venda on-line no site da Siciliano, se interessar? Agora vou dar uma olhada no blogger da vaquinha louca que é a minha irmã. Um bom final de semana. Fernando Guedes
e se não entendesse de mais nada (o que não é o caso, naturalmente), isso já bastaria, moniquete.
bj!
Boa dica, Fernando! Boa dica. Depois vou dar uma olhada.
Valeu!
Você tem o privilégio de pertencer àquele pequeno grupo de pessoas que têm o condão de retirar do dia a dia um pedacinho dos seus pensamentos ou acção, e transformá-los numa peça bem escrita, sempre gostosa de ler. Esta postagem é bem a prova disso. Meus parabéns.
Um bom fds
poxa, clau, que bom que minhas letrinhas chegam assim pra ti!
fico feliz, muito feliz!
;o)
bom final-de-semana!
Nossa a Clarinha arrebentou no comentário!!
Eu também amo Lupicínio!!
Beijos!!
Pois é, J@de,
a moça arrebenta meeeeeesmo, né?
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