segunda-feira, 9 de outubro de 2006

O jantar na casa dos Buscaglia

Leo Buscaglia conta que seus pais vieram de um vilarejo, na base dos alpes italianos, onde todos se conheciam. Diz que todos sabiam o nome dos cachorros, e que o padre vinha para as festas na rua, embebedando-se como todo mundo.
Aos cinco anos foi para a escola pública, nos Estados Unidos da América, e, curiosamente, foi matriculado numa turma para deficientes, nada obstante falasse muito bem o italiano e um dialeto, além de saber falar um pouco de francês e espanhol. Mas não falava muito bem o inglês... Talvez nessa época tenham começado a rotulá-lo.

E é, então, para justificar a idéia de que os rótulos são fenômenos que apenas distanciam as pessoas, que Leo Buscaglia nos conta algumas histórias.
Diz que ao chamarem-no de "carcamano" e "gringo" as pessoas mostravam que não sabiam nada, dele. Não sabiam, por exemplo, que seu pai tinha sido garçom, quando chegaram aos EEUU, e que trabalhava até tarde; que sua mãe ficava um pouco solitária e então juntava os 11 filhos para cantarem óperas. Cantavam "Aida", "La Boheme", e brigavam pelos papéis. Ele tinha 10 ou 11 anos, nessa época, e sabiam as óperas de cor e todos os 12 podiam cantar qualquer papel!!

E então vem a história do jantar...
Buscaglia nos conta que aquelas pessoas ignoravam a regra de seu pai, segundo a qual, antes de saírem da mesa de jantar, tinham de lhe contar algo novo que houvessem aprendido durante o dia. Leia nas palavras do próprio Leo como eram as suas noites:

"...Considerávamos isso uma coisa horrível, uma coisa maluca para ser feita! Enquanto eu e minhas irmãs lavávamos as mãos ou começávamos a tomar a sopa, eu dizia:
- É melhor aprendermos alguma coisa.
E corríamos para a enciclopédia, procurávamos algo do tipo 'a população do Irã é de um milhão...', e ficávamos murmurando para nós mesmos:
- A população do Irã é de...
Depois de um jantar composto por grandes travessas de espaguete e montes de carne tão altos que nem conseguíamos enxergar o outro lado da mesa, papai afastava a cadeira, pegava seu pequeno charuto preto e dizia:
- Felice, o que você aprendeu hoje?
E eu falava, monotonamente:
- A população do Irã é de...
Nada era insignificante para esse homem. Virava-se para minha mãe e dizia:
- Rosa, você sabia disso?
E ela, impressionada:
- Não!
Pensávamos: 'Essas pessoas são malucas.'
Mas vou contar-lhes um segredo. Mesmo agora, indo para a cama de noite, exausto como costumo estar, ainda paro e digo a mim mesmo:
- Felice, meu velho, o que você aprendeu de novo, hoje?
E se não consigo me lembrar de nada, pego um livro e procuro algo antes de conseguir dormir. Talvez isso é que seja aprender. Mas eles não sabiam disso quando me chamavam de carcamano. Os rótulos são fenômenos que distanciam: parem de usá-los. E quando alguém perto de você usá-los, tenha a iniciativa de dizer:
- Sobre o quê e quem vocês estão falando? Não conheço nada desse gênero.
Se cada um e todos nós pararmos de fazê-lo, isso não acontecerá mais... Existem muitas coisas bonitas em cada ser humano, para que seja rotulado e marginalizado."

E então? Antes que o dia acabe, aprenda algo de novo. E repita essa experiência de aprendizado amanhã, e depois, e depois, e continuamente.
Tenha bons jantares, grandes aprendizados, e uma boa vida!

12 comentários:

D.E.S.A.S.S.I.S.T.I.D.A.S disse...

Realmente Suzi, bons aprendizados são essenciais na vida, ah e vbons jantares tbem...
parabéns pelo post.
abraços,
THA

Anônimo disse...

Concordo. Sou um aprendedor inveterado e bastante auto-didata. Acabo de ler um artigo sobre "proteômica baseada na espectroscopia de massa". Ia jogando fora, mas agora você me consolou com o seu texto. Deve servir para algo bom, hehehe.

Beijão.

Suzi disse...

THA,bons jantares, bons aprendizados, boas companhias, boa vida!!!
;o)

Suzi disse...

Or, sente-se com Gui e conte pra ele o que você aprendeu hoje!!
:o))

Anônimo disse...

Jantares e aprendizados são sempre bem vindos...
linda noite bonita
beijosssssssss

Suzi disse...

você também é sempre bem-vinda, clarinha.
você e a poesia.
;o)

Alberto Oliveira disse...

Xi gente! Isso é que eram jantares!! Estou a referir-me à montanha de carne que não deixava ver o outro lado da mesa...

Também tenho muita sede de aprender... mas cada vez gosto mais de descansar a mente. Incompatibilidade teimosa, né?


Gostei muito da descrição.

Suzi disse...

jantar tipicamente italiano, não??

mas é preciso mente descansada, para aprender!! não pode é ser u'a mente ociosa!

;o)

Mônica disse...

pensei que vc fosse falar de outro jantar... o que eles chamaram de "o jantar da miséria de mamãe"

lembra desse????


beijos, boneca

Suzi disse...

do minestrone??? quando o pai ficou desempregado??

Anônimo disse...

Oi Suzi, tava ansioso para ver a "história do jantar", por isso vim correndo. Muito legal mesmo. Aqui, parece que se fala de aprendizado, da interação da família nesse desenvolvimento, enfim, sobre educação... Assim, penso que você é educadora ou tem filhos e gosta disso. Mas, o mais interessante é sobre o "rótulo" com que as vezes escondemos nossa discriminação. No caso dele, "carcamano". É pra pensar, realmente. Obrigado pela mensagem. Esse jantar me deu fome, inclusive, de aprendizado!!! Risos.

Suzi disse...

trabalhei alguns anos com crianças, e me pós-graduei em psicopedagogia. foram anos maravilhosos da minha vida, porque as crianças são fonte de tudo o que há de bom, na vida.

hoje estou atuando em outra área, mas mantenho o amor pela educação, base de tudo.

quanto aos rótulos... definitivamente, eles só servem para afastar as pessoas, umas das outras.

beijo!