Há alguns anos, num dia seis de dezembro, numa família já formada por quatro pessoas, nascia uma garotinha. Num sorteio, seu nome foi escolhido. Ideia de um dos irmãos. Apesar de gostar demais do nome que lhe deram, sua gratidão, mesmo, vai pra quem fez o sorteio, considerando que havia, em algum papelzinho, por lá, uma outra proposta: "Dinorah" - o "h" é por minha conta, pra garantir, ao menos, um certo charme, mas estou certa de ele não existia, na sugestão. Se saísse o "Débora", que, dizem, também estava lá, eu até aceitaria numa boa, mas Dinorah não era, exatamente, a minha ideia de nome pra mim, embora tenha um significado lindo e origem hebraica; e posto que, é bem verdade, naquele momento eu nem pudesse ter ideias para então poder dizer que não era essa a minha ideia de nome.
Daí em diante, só alegria.
P.S.
** Na Copa do Mundo de 1958 o técnico da Seleção Brasileira, Vicente Feola, disse aos jogadores, na preleção para o jogo contra a então União Soviética, que bastava fazer a bola chegar aos pés do Garrincha que ele garantiria a vitória. E aí Mané Garrincha mandou na lata: “Seu Feola, já combinou isso com os russos?”
Desde criança, algumas coisas ficaram bem claras, naquela família, como por exemplo: os irmãos devem se amar, precisam se defender mutuamente, nunca devem dormir brigados, e devem ajudar uns aos outros; todos têm responsabilidades, em casa; lavar, passar, cozinhar, fazer a cama, arrumar a casa, são tarefas de todos e não apenas de menina; somos pobres mas somos limpinhos (e isso incluía nunca usar calcinha, cueca ou meias rasgadas); somos ricos da graça de Deus; pais devem ser respeitados; estudar é fundamental; e futebol é FLAMENGO.
Dos três filhos, admito, quem levou essa última lição mais a sério fui eu. Meu irmão é FLAMENGO, seus filhos (muito mais por influência das tias de ambos os lados da família) são FLAMENGO, todos têm sua camisa oficial, mas confesso que eu ainda levo aquela lição um pouco mais a sério que meus dois irmãos, muito embora a disputa não inclua minha irmãzinha, que é meio desobrigada nos assuntos de futebol - como se não soubesse que todos nascem FLAMENGO e, "uma vez FLAMENGO, FLAMENGO até morrer"... Por fora, pros outros, ela diz que não tem time. A gente deixa. Uma coisa é não gostar de futebol. Outra, bem diferente, é não ter um time. Ela tem um time. Mas não espalha... Ela apenas ri, com um certo ar de quem é desprendido nesses temas futebolísticos.
O ano, agora, é 2009.
Já fazia dezessete que o FLAMENGO, campeão do mundo, não levantava a taça brasileira. Flamengo de Zico, Andrade, Adílio, Leandro, Raul, Mozer, Junior, Tita, Nunes, Carpeggiani... Um time de futebol, de alegrias, de estrelas, de ídolos, de vitórias e conquistas. Campeão de terra e mar, o Clube de Regatas do Flamengo! Um time, para ser grande, não precisa, necessariamente de títulos, mas o Flamengo sempre teve na sua grandeza um misto de taças, títulos, ídolos, e torcedores apaixonados no mundo inteiro...
2009. Um time que começou timidamente, o campeonato. Fez algumas boas exibições mas sofreu tanto com a ausência de seus titulares! - fosse por suspensões automáticas decorrentes de cartões amarelos, fosse por problemas físicos ou por faltas sofridas em campo que afastavam por meses os jogadores -, e foi obrigado a jogar diversas rodadas com reservas sacados da equipe de juniores, meninos ainda em treinamento, misturados a apenas dois ou três titulares em campo... Mas quando Pet e Adriano estavam por lá, comandavam um show à parte.
A pressão na garotada foi ficando forte, inclusive porque ninguém quer saber se são crianças do infantil, do juvenil, ou atletas da equipe de "masters"... se estão em campo, é o FLAMENGO. E a camisa, aquele "manto sagrado" há que fazer a diferença. Enquanto os problemas físicos dos titulares não se resolviam, o Mengão ía administrando aquela parte intermediária da tabela de classificação; mas isso, nós sabíamos, era muito pouco.
A equipe foi se recompondo aos poucos e se mostrando madura, equilibrada, centrada, confiante e determinada. Sempre de chuteiras, não havia salto alto. E o Andrade, você sabe...
Andrade, o técnico que calçou as "sandalinhas da humildade" o tempo inteiro, era apenas um "auxiliar" (já há uns seis anos), que passou a "interino" após a dispensa do Cuca, e que um dia, ainda em momento anterior à decolagem do Flamengo, terminou sendo efetivado. Um técnico que fez toda a diferença. Mas isto daria um outro post...
E a equipe que veio numa ascensão incrível, comendo pelas beiradas, mantinha os pés no chão e buscava "apenas" uma vaga para disputar a "Libertadores da América" em 2010...
E como resultado de um trabalho sério, na penúltima rodada "do mais emocionante campeonato brasileiro na era dos pontos corridos", lá estávamos nós, ocupando a primeira posição.
Deixando pra trás o Palmeiras, que se manteve na cabeça por diversas rodadas seguidas, alardeando do Oiapoque ao Chuí que o Brasileirão de 2009 já tinha campeão, deixando pra trás São Paulo, Inter, Cruzeiro, Atlético... levantando poeira, o Flamengo chegava lá.
Não é bobagem, quando se diz que "se deixarem o Flamengo chegar... já era!"
O que se quer dizer com isso, pra quem ainda não entendeu, é que é preciso segurar o Flamengo o mais cedo possível. Se são pontos corridos, é preciso marcar em cima desde o comecinho; se é mata-mata, segurem ali pelas oitavas-de-final, no máximo... porque se não fizerem isso, e o Flamengo for chegando... Ah, minha gente... já era. Quando ele chega numa final... Dá nisso. Ninguém segura mais.
No Campeonato Brasileiro, o Mengão tem SEIS títulos de campeão. Nenhum de vice-campeão. Copiou?
Pois é.
Agora era o dia seis de dezembro de 2009. A festa havia começado de manhã. O aniversário daquela criança que levou a sério a lição que o papai ensinou não poderia ser mais emocionante. A última rodada do campeonato não poderia cair num dia mais perfeitinho. Tudo combinado. E embora "tenham esquecido de combinar com os russos"**, vencemos por 2x1 contra um Grêmio que não tinha nada a ganhar ou perder, e para quem, empatar ou ganhar significaria o título para o arquirrival (o Inter - uma espécie de rivalidade como a existente entre Vasco e Flamengo, lá no Sul do país), mas que jogou toda a bola que sabia, num campeonato em que ficou marcado por só ter ganho uma partida fora de casa. Levantamos a taça, com dois gols de zagueiros, e uma torcida em delírio no mundo inteiro. Sim, no mundo inteiro!
Acredite! O mundo é sinixxxxxtramente rubro-negro!
Em casa, ficaram: a TV, ligada, e meus sapatinhos do Imperador. Tudo como nas últimas rodadas, pra não mexer em time que está ganhando...
Na casa da mamãe e do papai, a família reunida, com direito a manto sagrado, óculos de sol nas cores do time do coração, faixa de campeão já preparada, Hino do Flamengo tocando (até então "apenas penta"), fotos, alegria, clima de festa e cheiro de Hexa no ar.
Começa o jogo. Maracanã lotado. Uma festa, daquelas que só a maior torcida do Brasil sabe fazer...
Mas lá estavam "os russos"... E eles meteram o primeiro gol.
Intervalo de jogo, a caravana segue, porque é hora de encontrar os amigos. A essa altura, o jogo estava empatado e isto significava um inédito vice-campeonato que não nos interessava. David havia garantido, ao menos, uma ida para o vestiário sem o amargo gosto do 1x0. Mas ainda era um vice-campeonato... Meu pai, então, do alto de sua sabedoria rubro-negra, me segreda ao ouvido:
- Filha, você chegou aqui campeã. Está saindo sem o título. Mas vai voltar campeã!
Saí.
Agonia, pelo caminho. Chego ao destino. Estaciono. A festa mais uma vez é um misto de aniversário com campeonato brasileiro. Passam-se dois minutos... É!!! Lá vem o cabeça!! Ronaldo Angelim. O cara. 2x1.
A gente respira. Não exatamente aliviado. Muita emoção. Coração na boca. E na chuteira dos caras, em campo. Adrenalina.
O árbitro apita o final da partida. Endorfina.
Eu pego o telefone e no meio daquela emoção toda, disparo:
- Pai!!!! É o HEXA!!!! Vou voltar campeã!! Eu sabia!! Se eu não pudesse confiar no meu pai, iria confiar em mais quem, nesse mundo???
Daí em diante, só alegria.
Ligações feitas e recebidas. Cumprimentos de FELIZ ANIVERSÁRIO que se misturavam aos de HEXACAMPEÃ. Ligação do Rio, São Paulo, Oshawa/CA.
Era o dia seis de dezembro de 2009.
A festa começou de manhã. Emendou com a tarde, varou a noite e entrou pela madrugada. Seguiu-se pela segunda-feira, a semana inteira... atravessa o mês... não para, não para, não para...
Seis de dezembro de 2009. O dia que não acabou!
P.S.
Eu pedi, de aniversário, pro Flamengo, o HEXACAMPEONATO. Ele me deu.
Pois é... deu confiança, já era. Ano que vem, vou pedir o Mundial Interclubes. E aí, mermão, vamos bordar outra estrelinha dourada...
Pai, pode pegar esse título de aniversário também! Dá pra dividir!!
** Na Copa do Mundo de 1958 o técnico da Seleção Brasileira, Vicente Feola, disse aos jogadores, na preleção para o jogo contra a então União Soviética, que bastava fazer a bola chegar aos pés do Garrincha que ele garantiria a vitória. E aí Mané Garrincha mandou na lata: “Seu Feola, já combinou isso com os russos?”
6 comentários:
Oi Suzi!
Muitos parabéns! Pelo sucesso do nosso Mengão e pelo aniversário.
Este é o ano dos maiores do mundo. Mengo e Benfica
Beijo
vai-te tratar ohhh mr.t. quem é esse tal de benfica? só pode seer mherda.
Connosco quem quiser, contra nós quem puder!
Maior que o Benfica só esse outro clube português, o Anti-Benfica.
Olá, Mr. T!! Quanto tempo!!!
E se ao Benfica forem reservadas as mesmas alegrias que os deuses do futebol reservaram ao nosso rubro-negro... Prepare-se!!!!
(mas deixem o Aírton por cá... rs)
Humm, que post gostoso de ler.Emocionante mesmo e bem intimamente eu também comemorei este titulo, muito mais pelas pessoas que eu amo e que estavam euforicas naquele 6 de dezembro.
Beijão, linda, feliz sábado!
Ah Suzi, só hoje tive tempo para ler este post na totalidade.
Tenho passado por cá, espreito rápido, mas nem um tempinho para comentar.
Grande dia seis de Dezembro, hem? Daqueles que ficam na memória para sempre :):):)
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