Resposta a uma carta de 8 de abril

Rio de Janeiro, 9 de março de 2008

Querida M,

Acabo de receber tua cartinha.
Nossa parecença no gosto pelo sol te fez lembrar de mim, ontem. E me fez lembrar de ti, hoje.
Se ontem o céu estava cinza, hoje ele esteve azul. Um pouco porque depois da tempestade vem a bonança, um pouco porque o dia em que A. resolveu que se mostrará para nós deveria mesmo ser um dia de sol, e também um pouco porque o Dono do céu sabe o bem que te faz quando manda um brilho, de cima, cores vivas e calor.

É Ele quem te conhece melhor do que eu, que tanto te quero bem; e foi Ele também quem excluiu os juros dos teus pecados, e perdoa a dívida integralmente, a quem quiser ficar sem dever.
É por isso, e somente por isso, que Ele colore o céu cada dia. Por amor. Amor.

Os céus que tu tens fotografado são, para mim, um simbolismo. Um simbolismo que é um misto de amor e de ensinamento. Para que jamais esqueçamos: assim como o sol se renova a cada manhã, mesmo que não o vejamos, também assim cada um de nós há que renascer, cada dia, não importa que tantos nem percebam.

E tudo sem olvidar que o nascer de uma criança é, em parte, o renascimento da esperança que Ele deposita na humanidade. É nossa chance de também renascer.
Que A. seja bem-vinda a este mundo. Eu assumo o compromisso de fazer, deste, um mundo melhor para ela. E também para ti. Para que os choramingos dêem lugar, em breve, àqueles risos largos que não se podem perder.

Fico bem, sim, acredite.
Fica bem também.

Lindos dias,
beijos,
S.

A carta de 8 de abril:

Querida S.

Amanheceu cinza e lembrei de você por nossa parecença no gosto pelo sol.

Em mim nascem os dias, caem as tardes e anoitecem as noites num exercício de vida, num aprender de novos passos sem acrobacias e sem firulas, apenas lento caminhar para o final da rua.

Nada mais além do que meus olhos podem alcançar.

Meus pecados são pagos com juros, e isso, bem antes da igreja adicionar mais uns na lista dos capitais; só pode ser mania de grandeza,viu?

Tenho dedicado algumas horas fotografando o céu, gosto da infinidade que ele propõe, da liberdade remetida e da viagem inevitável quando a admirá-lo, fiz uma montagem amadora e coloquei aí ao lado numa exposição do que meus olhos vêem, me diga se gosta.

Hoje a casa está vazia.

Sem os gritos dos meninos fica solitariamente arrumada, assim vou lendo e escrevendo ao som de boa música, num ensaio melancólico de novo tempo.

Ando choraminguenta demais, eu sei, mas não se preocupe que não estou doente é só tristeza, e desabafar me faz mais leve [mesmo que encha a cabeça dos amigos, hehehe].

Essa quinta-feira está marcadinha na minha agenda com um lindo sorriso em cima das 12 horas. Após 40 semanas A., resolveu que se mostrará para nos lembrar que [re]nascemos em cada nascimento.

Fica bem, bunita
lindo dia

beijos

M.