quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Uma tarde feliz e inesquecível

Saquarema - Segunda-feira - 19 de fevereiro - Pôr-do-sol - Céu acima da lagoa

Carnaval.
Gosto do Carnaval de um jeito diferente da maioria das pessoas. Gosto do Carnaval pra viajar, ficar na praia, sol na cabeça e alegria entre amigos.

Fui pra Região dos Lagos - Araruama, Arraial do Cabo, São Pedro D'Aldeia, Saquarema, Praia Seca, Cabo Frio, Rio das Ostras.

Embora estivesse com muitos amigos, meti o pé na estrada sozinha. Eu precisava estar em contato com o verde das matas e o azul do céu, no meu tempo, no meu ritmo. Acelerei quando tive vontade, pisei no freio quando quis. Fotografei cenas da natureza, tive lembranças, na estrada, ouvi meu programa de rádio preferido, ri sozinha. Troquei mensagens pelo celular, recebi ligação-Surpresa. Tudo conspirou para a felicidade, e a viagem foi perfeita.

Meus anfitriões foram igualmente perfeitos. Conforto e cardápio de hotel, num ambiente amistoso e fraterno. Isso não tem preço.

"Quarta-feira de cinzas". Dez e meia da manhã. Enquanto todos voltavam pro Rio de Janeiro, eu seguia para Rio das Ostras. Queria dar um beijo e um abraço nos pais e nas irmãs da Valéria. E não importava o quanto me diziam que eu pegaria um trânsito terrível, pra voltar, porque estaria me distanciando ainda mais do Rio. Eu queria. Sentia um desejo grande de abraçar aquela gente que me é tão querida... E fui.

O pai, quando ouviu minha voz, no portão, "desmontou" - como me contou mais tarde - e caiu no choro. Saudades. Lembranças. E só apareceu uns minutos depois, pra me abraçar feliz; feliz por eu estar ali. Não cansava de me apresentar às pessoas como "a maior amiga da minha filhinha" - e você não tem idéia do orgulho que eu sentia com isso. Ele contou que naquela noite sonhara comigo e com a Valéria. E deu detalhes do sonho. Aquilo me pareceu tão real... Fiquei emocionada.
A mãe, que ao sentir meu abraço não parava de me segredar ao ouvido "você não sabe como isso é bom...", me apertava forte, como fazem as mães que querem bem aos filhos.
Suas irmãs e sobrinhos vieram pra varanda e ali ficamos sentados, conversando. Enquanto almoçávamos uma moqueca de peixe, com um pirão delicioso, peixinho cozido, como Valéria gostava, ficamos ali lembrando histórias da nossa vida.

Curioso como todas as lembranças dela nos faziam rir. Afora os momentos de dor na fase final da sua vida, não havia uma lembrança, sequer, que não nos causasse risos e até gargalhadas. Tudo naquela mulher era alegria, caramba!! Contei das nossas armações, quando íamos pra Rio das Ostras; as melhores sacações eram dela; as mais criativas idéias de como dar um "fla-flu" em alguém saíam da cabecinha dela. As festas... Como nos divertíamos naquelas festas! Lembramos dos gostos, das poses, da Brasília branca nos anos 90, das trocas de pneus - ela botava pra correr quem se oferecesse pra trocar um pneu pra ela, como se as mulheres não pudessem fazer isso... Quanta lembrança boa! Lamentamos a ausência de alguns "amigos" na cerimônia da sua despedida. Senti uma dor e mágoa, nos olhos de todos eles, ao me falarem sobre isso. Numa família enlutada, não há ninguém que consiga aceitar como justificativa o fato de você não gostar de velórios nem o de você não querer ver "daquele jeito" o amigo que se foi. Relembrei a todos que devo a ela o prosseguimento da denúncia, no Cremerj, daquele médico que a tratou de modo tão desumano, no começo de tudo. Falamos sobre os bens deixados, e procurei tranqüilizá-los de que isso faz parte do processo. Que a habilitação dos pais, para a pensão post-mortem não significa mercenarismo. É direito e precisa ser feito. Lembramos de nosso retrato em grafite, que um desenhista fez em Trancoso/BA, e morreram de rir quando eu disse que no final ninguém sabia dizer quem era eu e quem era ela. Tivemos de perguntar ao cara e escrever atrás de cada desenho, pra não esquecer. O bugre, as bagunças, a alegria daquela viagem a Porto Seguro tornaram-se motivo de outras gargalhadas.
Enfim, entre risos e lágrimas, rimos e choramos numa tarde maravilhosa.

(Re)aprendi muito, ontem à tarde.

(Re)aprendi que você deve fazer o que o seu coração mandar, não importa "o trânsito que você vá enfrentar na volta";
que você deve "amar as pessoas como se não houvesse amanhã";
que um abraço talvez seja a melhor expressão de amor, na hora da dor;
que você, jamais, deve pensar primeiro em você, quando se tratar de estar presente numa cerimônia de despedida de alguém - afinal, ninguém está num velório por gosto; ali, se vai por amor, consideração e respeito à família, além de ter muito a ver com seu grau de comprometimento e envolvimento com o de cujus;
que o melhor conforto quando se perde alguém é saber que você não deixou com ele nenhuma pendência; que não há nenhum remorso, nada mal resolvido;
que o vazio no coração vai ficar para sempre, mas há modos de preencher parte dele - e isso inclui cuidado mútuo, apoio, e a presença dos amigos não apenas no dia fatal, mas no decorrer da vida, nos dias, meses e anos que se seguirão.

Acima de tudo, eu (re)aprendi que o bem que se faz aos outros retorna sempre para nos fazer felizes.

23 comentários:

Zorze Zorzinelis disse...

Muito bem Suzi. O espírito é mesmo esse! Que engraçado perceber que temos algo em comum: o gosto pelo céu. Agora percebo o teu elogio no meu blog. Beijos *** - sim, acredita que quase sempre somos compensados pelo bem que fazemos; todavia, nunca podemos pensar em contrapartidas. Keep in touch...

Suzi disse...

Sim, Zorze, temos isso em comum, então.
Se deres uma corrida, na página, vais ver outras fotos de céus, por aqui. Minha paixão pelo céu e pelo mar é assim mesmo. Declarada! rs*

A alegria que damos aos outros, eu acredito, só nos volta quando fazemos sem pensar em retorno. Eu acho mesmo.
:o)

Anônimo disse...

Oi Suzi, são momentos assim que me fazem rir e chorar de saudades do meu irmão.Nestes relances é que percebemos que cada dia tem que ser vivido intensamente e da melhor forma possível. Pelo que vc fala , ela era bem parecida com meu irmão e hj eles devem estar brincando nas nuvens.rsrsrs. bjs

Anônimo disse...

Oi Suzi, são momentos assim que me fazem rir e chorar de saudades do meu irmão.Nestes relances é que percebemos que cada dia tem que ser vivido intensamente e da melhor forma possível. Pelo que vc fala , ela era bem parecida com meu irmão e hj eles devem estar brincando nas nuvens.rsrsrs. bjs

Custódia C. disse...

Querida Suzi
Mais uma vez colocaste por escrito a beleza de sentimentos profundos.
Tantas vezes somos felizes com lágrimas.
O meu dia (e não só o meu, o da mr também) hoje estava muito escuro, mas há pouco recebemos a boa notícia que trouxe toda a luz de volta.
Bj grande!

Anônimo disse...

Mais que o céu, o mar e as montanhas, você deu um enorme testemunho de humanidade, esperança e amor. Na verdade esteve sempre no sitio certo e fez bem em levar esse rastozinho de Sol á familia da sua amiga..imagino que o espirito dela devia pairar de felicidade sobre vocês. A minha irmã, do Astro que Flameja já tinha falado em você e por acaso vim aqui parar hoje... e não resisti a escrever-lhe estas palavras de parabéns pela sua grandeza, que como diz Tolstoi só existe onde está a simplicidade, bondade e a verdade.
Grande Suzi, merece o mundo...

Taia disse...

Tá, eu estava emocionada e agora estou chorando.
Caramba...
Reaprendi isso com a passagem do meu cunhado, e não deixo de abraçar, beijar quem eu amo e dizer isso.
Uma vez me dizeram que dizer eu te amo toda hora banaliza o amor.
Não acho. Eu digo sempre que meu coração pede.
E amar não depende de tempo, depende de amar. Só.
Seu texto aqui me fez bem, muito bem.
O que me escreveu lá me fez muito bem também. E aceito sua oferta sim, deixe só resolver a situação do seguro...
Beijo enorme Tri, te amo muito.

Suzi disse...

Custódia, minha querida,
não sei o que se passa por aí. Mas sei que passará.
E se já veio uma boa notícia, isso já é um bom começo.
Seja lá o que for, estou aqui. Com bons pensamentos e orações para que a sombra se vá e o sol volte ao céu de vocês.
Um beijo!
Pra você e pra MR.
;o)

Suzi disse...

Marcelo, só bem depois de ter sido escrito é que fui ler uma coisa linda que a Taia escreveu no dia em que a Valéria partiu...
Ela disse que anjos vem e vão com a velocidade da luz. Algo assim.
E se isto serve pra Val, serve, igualmente pro seu irmão. Pelas coisas que já li sobre ele, era também um anjo, na vida.

Beijos!

Suzi disse...

Cr, seja muito bem-vinda, por aqui.
Sua irmã havia falado de mim pra você e já havia falado de você para mim, sabia?
Pois é... Uma vez eu comentei uma expressão que usamos por cá: "...só se for na França"; e como, no caso, era sobre sol, ela me respondeu dizendo que, naquele dia, nem na França havia sol. Eu ri muito. E foi ali que "conheci" você.

Fico grata e até emocionada com suas doces palavras. São coisas que a gente faz naturalmente, quando ama. E Clarice Lispector já dizia que "nada do que vivemos
tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas..."

Um beijo, e volte sempre por aqui.
;o)

Suzi disse...

Taia, querida,
seu cunhado,o Anderson, a Valéria, são exemplos de pessoas que fizeram a diferença na vida da gente. O mínimo que devemos a elas é perpetuar sua memória com a mesma alegria e amor com que tocaram a vida da gente.

E concordo plenamente contigo, em relação à banalização/fortalecimento do amor. É isso mesmo.
Por isso eu digo que te amo!
Um beijo.


p.s.
você pode começar a cuidar de tudo mesmo antes de o seguro pagar o prêmio, ok? isso agiliza e diminui o tempo sem o carango.
;o)

Anônimo disse...

Cheguei um pouco tarde demais, mas cheguei. Eu também aprendo a ser uma pessoa melhor ao partilhar aquilo que te vai na alma. Um grande beijo.

Anônimo disse...

;o)

A vida nos ensina, Miguel. Há sempre uma lição a aprender.
Não chegaste tarde. Sempre é tempo.
Bj.

Luis disse...

... ... ...
Bem hajas por seres como és...
Bj.

Suzi disse...

"Se eu não tiver amor, nada serei"...

Gioconda disse...

Que bom que vc aproveitou seu carnaval da maneira que quis. Bom isso né? Se sentir no comando da sua propria vida, propria felicidade....não tem nada igual!
beijos e muitas saudades de vc!

Anabela disse...

Foi um bonito gesto da sua parte, Suzi. Continue assim pela vida fora, amando e acarinhando os seus. Porque amar é cuidar e lembrar, homenagear e segurar...

Luís F disse...

Ler-te é viver a tua vida...

Suzi disse...

Saudades de você também, Gio.
Eu precisava respirar!
;o)

Suzi disse...

É, Anabela. Vou repetir, porque acredito mesmo: "Se eu não tiver amor, nada serei."

;o)

Suzi disse...

Nossa, Luís! Que coisa linda!
:o)

beijos!

Janaina disse...

Vim aqui pelo post que você deixou agora em novembro.
A gente tem sim que seguir o coração. E nada mais importante que pessoas amadas.

Suzi disse...

sim, jana,
seguir o coração e amar as pessoas como se não houvesse amanhã...