Lembro de um texto do Rubem Braga em que ele dizia que assim como os compositores, que lá no comecinho das partituras colocam indicações sobre o andamento e o "espírito" com que devem ser tocadas as músicas (Allegro vivace, Largo, Allegretto, Grave...), também os escritores deveriam fazer a mesmíssima coisa com seus textos. Ele dizia que as pessoas leem mal porque não sabem o ritmo nem o espírito do texto.
Gosto do Português porque é uma língua rica, cheia de recursos; gosto das vírgulas, do ponto e vírgula, das reticências, das reticências seguidas de exclamação ou de um ponto de interrogação, e de como o "espírito" é outro se as reticências vêm depois e não antes da interrogação, por exemplo. Mas confesso que sinto uma pontinha de inveja do espanhol, que já avisa desde antes que aquela oração é uma pergunta, quando coloca um "?" de cabeça pra baixo logo no começo da frase...
Um texto bem pontuado é um bom convite à leitura; é quase perfeito. Mas alguns sinais que indicassem o andamento e o espírito do texto seriam mesmo a perfeição!
Imagine uma carta de amor que no começo trouxesse a indicação "moderato", "vivace", "vivacissimo" ou "presto"!, que lá pelo meio mudasse para "adagio", e no final... Ah... que no final trouxesse "gravissimo"! Você já leria com parte do sentimento de quem escreveu.
O resto... Bem, o resto ficaria por conta.
E haveria muito mais frutos do amor pelo mundo.
2 comentários:
De uma assentada só, trazes dois temas de encantar, a escrita e a música!
Muito bom Suzi, estás em forma!
Eu nada. A inspiração veio mesmo das lembranças do Rubem Alves!
;)
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