Foi um tempo em que minha vida estava totalmente ligada às crianças. Um tempo em que meus estudos, meus dias e noites era dedicados a elas e a sua educação. Eu acordava cedinho, minha mãe punha "o café" na mesa e eu almoçava, porque seria um dia longo, o tempo reservado para o almoço não ultrapassava uma hora, e essa hora não era exclusivamente para alimentação e descanso. Descanso, na verdade, não havia, e eu precisava dividir o tempo entre almoçar e sair da escola onde eu trabalhava a tempo de chegar na outra, onde deveria estar às 13h. Então, entre mães que se atrasavam para buscar seus filhos, ônibus que demorava e o sinal que tocava à uma da tarde, quase nada me restava para um almoço decente. E era por isso que eu já almoçava de manhã.
Depois das 17h30min, preparação para os meus estudos, à noite. E foi assim até à faculdade.
Comecei a dar aula aos 15 anos. Eu fazia o curso de "Formação de Professores" num Colégio de Aplicação. O primeiro ano era "básico", e as turmas eram formadas por alunos de diversos cursos. Eu estava no segundo ano quando fui selecionada para ser estagiária numa turma de 3ª série. A "professora" era uma colega do terceiro ano do curso de Formação. Foi minha primeira experiência em sala de aula. E eu gostei. Ao final do primeiro dia em que atuei como "estagiária", fui chamada pela Coordenadora do Curso para assumir a turma da 2ª série. Fiquei animadíssima! Mas, acredite, não fosse o meu talento pessoal (e digo isso sem nenhuma modéstia, mesmo), a base, na família, e as atividades na igreja, que sempre me levavam a falar em público e a cuidar de crianças, e aquilo teria sido um fiasco! É... Porque era (quase) nenhuma a orientação que recebíamos dos professores. E os pais, coitados, achavam que nós éramos professoras formadas... Pagando uma nota pela escola dos filhos.
Fiz meu trabalho bem feitinho, ali. Com dedicação, amor, carinho, e a contraprestação pelo trabalho era a bolsa de estudos. Eu (meu pai) não pagava mais a mensalidade do curso de "Formação". Trabalhei muito feliz, ali. A Coordenadora, então, me chamou para dar aula numa outra escola, na qual ela era Supervisora. Essa era, então, a tal escola em que eu trabalhava de manhã, e que falei lá no começo. Ali eu tinha dezoito alunos do "Maternal". Crianças entre um ano e meio e dois anos. A sala não tinha mais que 9 metros quadrados, eu suponho. Eu não tinha ajudante e quando cheguei as crianças faziam xixi no meio da sala. Não era legal trabalhar ali. Mas eu havia aprendido em casa: "Tudo o que te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças..." e eu tinha forças para trabalhar bem; não podia largar nem fazer mal-feito. Trabalhei direitinho, dedicada, embora tudo ali girasse em torno do dinheiro. Eu recebia, de "salário", o equivalente à metade da mensalidade de um aluno. Havia 18, na minha turma, lembra? O salário, ali, não era a atração. Longe disso. O que me atraía era a possibilidade de adquirir experiência, e a possibilidade de deixar a minha marca naquelas crianças.
A essa altura, no outro Colégio, pediram que eu deixasse a 2ª série e assumisse a primeira turma de "Jardim da Infância" da instituição. E a turma tornou-se a menina dos olhos da D.Vera Gissoni, a dona de tudo, ali. Nossa sala era a antiga sala da Presidência. E então, você imagina que beleza era aquilo! Nossa "casa de bonecas" ocupava uma sala inteira, dentro da sala. Havia banheiros, "hall" de entrada, ante-sala, o cantinho de descanso era uma sala inteira, também... A primeira turma de Jardim daquele Colégio tinha cinco alunos e uma professorinha que os amava muito e tinha tudo o que precisava para fazer seu trabalho, menos orientação, é verdade. Mas, como eu disse, eles deram muita sorte porque eu era boa mesmo, minha mãe e minha irmã eram professoras e eu aprendia em casa o que ainda não tinha tido tempo de aprender na "escola de formação". Foi também nesse tempo que eu conheci de pertinho o Renan, do vôlei, o Bernard-Jornada-Nas-Estrelas, aquela turma quase toda da geração de prata do vôlei do Brasil. A faculdade de Educação Física mais famosa do Rio, e, diziam, a melhor, funcionava no mesmo edifício em que ficávamos nós, do Jardim. Quando passávamos em frente à Biblioteca, cantando "Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou... mamãe chegou e me chamou por isso eu vou...", os meninos do vôlei vinham todos pra porta - pra ver as crianças, aquelas coisinhas lindas, cantando, merendeira no ombro, e sorrisinho nos lábios.
Fui nesse ritmo até o ano seguinte, quando terminei o curso e comecei a faculdade. Aquela escola que tinha 18 alunos na salinha minúscula cresceu muito (às custas do trabalho de tantas boas professoras, a maioria ainda estudante, e que não agüentava ficar lá mais que meses) e a última notícia que eu tive, há muitos anos, é que já tinha três anexos, quadra poliesportiva e tal. É um exemplo de como o comércio da educação é um investimento rentável. Olho vivo na hora de escolher a escola dos seus filhos. Conheça a filosofia da escola em que você vai colocá-los. E, de preferência, conheça o professor que será responsável pela sua educação. Tem muita gente boa em lugar ruim. E, às vezes, o lugar ruim só consegue ter gente do mesmo tipo...
Quando acabei o curso de "Formação de Professores" e cheguei à faculdade, já havia adquirido o gosto pela educação. Eu, que havia planejado fazer apenas um período de Pedagogia e em seguida abraçar o Jornalismo de uma vez por todas, não consegui abandonar o curso. Saí daquela escolinha 18 x 9 (18 alunos por 9 metros quadrados), comecei a dar aula em outra escola particular, fiz concurso público para "Professor II", no município, tive duas matrículas, caí dentro. Era, pra mim, a profissão mais linda do mundo. EDUCADOR.
Um dia, todavia...
Pois é. O encanto não acabou, mas aquela criatura que amava dar aulas e educar crianças, também gostava muito de defender direitos. Os seus e os dos outros. E então mudou o rumo, para andar por novos caminhos.
Gosto muito da profissão que exerço, hoje. Mas, como dizia Leo Buscaglia, a que mais gosto, mesmo, é a de Educadora. Pelo que representa, pelo que pode fazer pelo mundo, pelo que fez de mim e pelo que me permitiu fazer por outros, tenho orgulho de ser Professora. E é sempre uma alegria imensa, quando no dia 15 de outubro de todos os anos o telefone toca e do outro lado da linha está minha mãezinha dizendo: "Parabéns pelo seu dia, minha filha!"
14 comentários:
Parabéns pelo teu dia! :)
Adorei ler esta tua história de vida!
Boa semana!
Beijos *.*
Muito grata, Guiga!
Boa semana pra ti também!
;o)
Parabéns "tia suzi". Sorte sua que tem o dia 15 de outubro. Na outa profissão ninguém liga para parabenizar né? (piadinha infame, eu não resisti)
hehehehehe
eu sei como é.
nem eu resisto.
hohohohoho!!
Parabéns pra você educadora. Gostei de ler sua história.
Bjim
Parabéns pra você também, Cris!
;o)
Gostei de ler Suzi:)
Tb gostei de ler. Aí como cá, presumo: pouco compensador financeiramente ser educador...
;o)
Beijinhos, Custódia.
E saudades de ti!
É, Rps. Financeiramente, pouco compensador.
Ganha-se em outras frentes. É uma profissão de puro amor.
Que história bonita, Suzi! Mais uma, aliás!
Beijo ;-)
Bela história Suzi! Adorei!! :)
É bom revisitar essas histórias. E se juntar com os anos do R SOL então, dá um livro! Bom mesmo é ouvir no telefone todo ano o parabéns, não é?
Pro dia ficar ainda mais festivo, os professores aqui em casa resolveram casar nesse dia, e o parabéns fica duplo....rsrsrs.
Bjnhs.
Opa, alguém faz aniversário de casamento?
Parabéns!
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