domingo, 28 de janeiro de 2007

Minudência

Chegou pelos Correios. Já era passado, o Natal. Um envelope amarelo. Amarelo e pequeno. Quadradinho. Escrito à mão. Não sou boa nessas coisas, mas devia ter não mais que nove ou dez centímetros, cada lado; não mais. Era bem capaz que o carteiro o perdesse no meio de tantos outros. Os homens não estão acostumados a cuidar das pequenas coisas, e elas se perdem, no meio das grandes, no meio da imensidão das coisas que chamam a atenção porque ocupam espaço. É curioso como coisas espaçosas - gente, também - vão se sobrepondo àquelas mais discretas, mesmo sem dever... Uma espécie de imposição.

Os homens, eu disse, e quis dizer homens e mulheres. Diferentemente das crianças, eles não sabem direito como cuidar e não perder as pequenas coisas. E às vezes chego a pensar que bastaria aprender isso, na vida.

Dentro do envelopinho amarelo, havia um cartão. Era branquinho e trazia no meio umas flores. Postado em Florianópolis, endereço de origem São Conrado, Rio de Janeiro. Escrito à mão, como convém às coisas pessoais embora a modernidade seja mais prática, trazia um pouco de quem o assinava. É uma coisa interessante, isso de você sentir alguém bem perto, quando vê sua letra num pedaço de papel... Tenho gente perto de mim em dedicatórias de livros, em cartões de aniversário, em bilhetes guardados, listinhas de supermercado, gente que chega bem perto pelas anotações na agenda, nos cadernos e livros de colégio e faculdade... tenho gente perto de mim em camisas de uniforme assinadas no último dia de aula, no guardanapo do barzinho em que comemoramos a formatura na faculdade de Direito - aquele guardanapo cáqui, de tecido, com mensagens dos meus queridos amigos e da minha amada família.

Muito bem colado, e na ânsia de abri-lo, rasguei o envelopinho amarelo e retirei o cartão. Enquanto lia, inevitavelmente eu sorria. Seu jeito de falar estava ali. Vi até aqueles seus olhos que se marejam de lágrimas sempre que falamos de coisas especiais.

E então eu disse tudo isso para chegar aqui. E contar que dentro do cartãozinho encontrei a coisa mais delicada que alguém poderia encontrar num cartão de Natal. Eu já estava feliz se tudo acabasse ali, naquela parte em que eu rasgava o envelope e lia o cartão. Porque não se acabam, palavras de amor envoltas em carinho. Ficam eternamente, ressoando, como borboletas amarelas ficam dando voltas eternas em torno das flores quando querem nos dizer que há beleza, no mundo.
Mas ali estava a coisa mais delicada que eu poderia encontrar sutilmente embalada num cartão...















E enquanto releio, na cama, "A Hora da Estrela", marco a página com o "AMOR" que recebi. Num misto de sentimento pelo que leio, pelo que foi escrito, por quem me deu o presente, pela vida, pelo que tenho, pelo que houve, pelo que virá, por Deus, que me deu amigos tão presentes e amados... esse amor... eterno seja!

12 comentários:

Anônimo disse...

apenas isso: lindo, lindo, lindo!

beijos de domingo

Suzi disse...

lindo e chique, benhê!
;o)

bom domingo, mumumu!

Anônimo disse...

que meigo,singelo,delicado e todos os sinônimos que encontrar para esse mimo...
merece,bunita...merece
beijosssssssssss

Anônimo disse...

Só o facto de alguém, nos dias que correm , ainda se dar ao carinho de comprar (improvisar, que seja) um postal e enviá-lo escrito pelo seu pp punho já é uma raridade. Para mais tarde recordar. Bjos

Anabela disse...

suzi, esta história fez-me lembrar quando eu estagiava, e as criancinhas me ofereceram um marcador de livros, com o meu nome gravado, com a devida dedicatória (Para ti, Anabela, dos teus alunos de Pernes). Eram os primeiros... Tenho-a guardada. Não a uso, com medo de a perder.

Suzi disse...

é, marcinha; é tudo isso!

Suzi disse...

pois é, miguel.
e ela estava viajando, de férias, em outra cidade.
é muito bom ter amigos assim, não é?
:o)

Suzi disse...

És professora também, Anabela?? Nossa... eu amava essas demonstrações de carinhos dos pequenos! Inesquecíveis.
Guarda mesmo, teu presente. É uma relíquia!
;o)

Custódia C. disse...

A vida tem destes momentos bons!

Suzi disse...

e que se tornam inesquecíveis, não é, ccc?

Krama disse...

Sem Palavras......
Te amo muito, amiga.
bjos

Suzi disse...

Krama, querida. Você é mesmo muito especial e querida. E tem deixado marcas igualmente especiais nas páginas da minha vida.
Um beijo!
;o)