Por conta da internação de Zélia Gattai (já de alta, que bom!), andei lendo umas histórias. Uma delas, trazia uma fala de Jean-Paul Sartre que me deixou tão envolvida, que parei tudo e fiquei pensando naquilo...
O filósofo estava fazendo uma viagem pelo Brasil, e os cicerones eram Zélia e Jorge Amado. Provocado pela mãe, que o incentivava a entrevistar Sartre para o jornalzinho da escola, João Jorge, então com 12 anos, disse assim:
- "imagine se vou entrevistar o Sartre... eu não, todos os jornalistas já perguntaram tudo, ele não tem mais nada para responder".
E aí o Sartre chegou. Zélia explicou-lhe o que estava acontecendo. Agora, leia o que disse o francês:
- "você pode fazer uma entrevista comigo porque vai me fazer perguntas que nunca ninguém fez, perguntas de um menino de 12 anos. Pergunte se eu gosto de tomate e vou te responder que não gosto muito: prefiro ovo frito."
E ainda falando sério, por mais que o menino achasse que ele estava de onda com a cara dele, o Sartre prosseguiu:
- "uma pessoa só pode perguntar a outra o que ela conheça e compreenda. Você não vai falar de existencialismo, Freud, porque você não sabe nada disso. Você tem que escrever e fazer alguma coisa de acordo com o seu conhecimento. Você e qualquer pessoa."
Lembrei disso porque li hoje, na Caros Amigos, uma crítica sobre o novo CD do Chico, escrito por um professor de História que, pra mim, dizendo que "Chico Buarque tornou-se uma unanimidade tão absoluta (burra!?) que acabou maior do que a própria vida. Está além do bem e do mal. Homem inteligente que é, não tenho certeza que compactue com isto. Como é confortável, “vai levando”. Talvez desejando secretamente que apareça um Nietzsche em sua vida, para fazer dele seu Wagner. Um abusado que o questione, quebrando a monotonia do sorumbático festival de elogios que há décadas o persegue.", quis, ele mesmo, ser "o abusado" de que falara. Acho que como crítico de música ele me pareceu um excelente professor de História. Não deveria ter escrito sobre alguma coisa de acordo com o seu conhecimento?
2 comentários:
Pois é, eu não conheço nada de Chico e nem entendo de música, gosto ou não e só.
Mas uma vez eu ouvi uma entrevista com o Chico. Nela ele dizia que na época da ditadura ele era muito melhor, tinha que estudar frases, palavras, conhecer outras. E daí surgiu seu lirismo, com poesia. Hoje, a liberdade lhe tirou o compromisso com a criatividade.
Talvez o professor tenha uma certa razão. se todos lhe dizem amém...como melhorar, como?
Talvez, mas eu não sei de nada, rsrs
nisso eu concordo, tatá.
mas é que achei muita pretensão o cara se achar o tal "abusado".
menos, professor, menos.
então, que fale de História. porque, certamente, se estivesse a falar de História, o teria feito com maior humildade.
(e eu sou totalmente suspeita, por amar o Chico - hehehehe!!)
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